— Essa é a geração que vai mudar o mundo.
Enrico, um professor de História na casa dos quarenta aponta para o salão que começa a ficar vazio. O sol nasce lá fora e, olhando pela janela, já dá para ver as imundas ruas do centro. Enrico me levou até aquele bar podre para ver a real noite da cidade, depois de um pub crawl que envolveu o Teathron, uma das maiores baladas gay da América Latina e dois karaokês.
É véspera de eleições municipais em Bogotá. A esquerda pela primeira vez está no poder na Colômbia, não sem meter os pés pelas mãos.
Gustavo Petro, que assumiu o cargo em 2022 com promessa de implementar amplas reformas econômicas e sociais, se viu em meio em uma pendenga familiar digna de telenovelas que derrubou sua popularidade para baixo dos 60%.
Após descobrir um caso extraconjugal entre Nicolás Petro, filho do presidente, e sua melhor amiga, a esposa traída colocou a boca no trombone para delatar casos de corrupção em que o ex-marido estava envolvido. Nicolás confirmou que havia injetado dinheiro do narcotráfico na campanha do pai, que, por sua vez, alegou não saber de nada: “Eu não o criei, não compartilhamos os mesmos valores".
Preso, abandonado e ofendido, o filho colocou também sua dose de vingança na história e disse que ia contar tudo. Estava armado o drama em horário nobre.
Mas Enrico, ao contrário de todos os outros colombianos com quem conversei, estava otimista. Bogotá é reduto progressista e cosmopolita, dizia ele, e graças a essa geração que vem aí, o país vai mudar*. “Eles têm sangue nos olhos. Pode acreditar!".
Ele lecionava em um projeto social frequentado por muitos dos adolescentes e jovens que aparecerem por ali naquela noite. Moradores de bairros violentos e de baixa renda, mas beneficiados pelos avanços sociais vividos no país nas últimas décadas, segundo ele esses jovens começavam a fazer diferença nas urnas. Durante as quatro horas que permanecemos ali, vi vários se aproximarem para cumprimentar o profe.
“Esse aí rouba celular no centro", me confidenciou sobre um dos rapazes que se aproximou com panca de dono da festa.
Pablo, um DJ prestes a completer trinta anos, parecia muito menos empolgado que meu amigo professor.
Para ele, a Colômbia é um lugar isolado entre montanha, floresta e oceano. Um pedaço de terra sem lei, disputado entre guerrilhas e milícias; financiado por dinheiro de cocaína e deixado à deriva pela própria população.
— Isso aqui? Isso aqui não tem saída, man! Esse país é uma ilha pirata. Qualquer um pode atracar o barco e saquear, fazer o que quiser.
*As eleições municipais ocorreram em 30 de outubro de 2023. O candidato de Petro, Gustavo Bolívar, obteve apenas 18% dos votos e perdeu para Galán, candidato da direita moderada, confirmando sua falta de popularidade no país.
Últimos vídeos no Youtube
Tivemos bastante movimento lá no canal das últimas semanas, e com isso eu encerro a série de vlogs de Cuba. Um dos meus objetivos esse ano é ficar em dia com os conteúdos de viagem, diminuindo o tempo entre eu estar no lugar e publicar os vídeos.
Estou quase lá!
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Se nos encontrássemos para um café…
Uma blogueira que eu sigo começou uma sessão assim na newsletter que consiste em dar pequenas atualizações sobre vida que a gente poderia contar em uma tarde num café. E daí que eu queria testar isso aqui também.
🧳 Se nos encontrássemos para um café eu contaria que estou prestes a viajar outra vez. Que devo ir passar a Semana Santa na casa da minha avó, em Brasília de Minas, e depois ir para São Paulo para participar de alguns eventos. De lá, pego um vôo para Los Angeles para um feira, e que vou ficar duas semanas por ali. Que eu não pretendo alugar um carro e estou com medo disso me limitar muito na cidade.
🇫🇷 Se nos encontrássemos para um café eu diria também que de Los Angeles vou passar dois meses em Paris, que já era uma vontade antiga “morar” ali para viver o dia a dia, muito Emily in Paris, mas que ao mesmo tempo estou chateada por ter tido que adiar a viagem para Ásia, e que as passagens estão muito caras. Será que nunca voltaremos aos preços pré-pandemia?
🇯🇵 Se nos encontrássemos para um café eu diria que mesmo com a mudança de planos, tenho praticado japonês todos os dias no Duo Lingo, com um streak de quase 100 dias, e agora comecei também as lições de francês. Que eu amo aprender línguas e que não sei porque estou há bem uns 8 anos sem me dedicar a isso.
📺 Se nos encontrássemos para um café eu diria que maratonei Vale um Escrito na Globo Play e tô obcecada com essa história. E que, pensando bem, o Brasil também é uma ilha pirata, né?
E vocês, o que me contariam em um café?
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Nós vemos na próxima!
nada mais latino do que o presidente perder popularidade graças a uma traição familiar onde a pessoa traída bota a boca no trombone e gera toda uma reação em cadeia, trama digna de uma novela mexicana
Ansiosa pra ver suas andanças em París. Também adiei a trip pra Ásia, devido os valores exorbitantes. Enquanto isso, sigo te acompanhando em LA pelo Insta, e tentando encarar algum ângulo para um pontinho positivo em viagens aos EUA.