[Migraciones #30] Escritório: Lugar de Escrita
Pode ser na praia. E também na rua, na fazenda ou numa casinha de sapê.
Haruki Murakami concebeu o romance Norwegian Woods durante uma viagem pela Europa. Utilizando um caderno barato e uma caneta bic, ele escreveu de mesas de cafés, bancos de ferry boats, sombras em parques, salas de espera de aeroportos e de mesas de hotéis chinfrins.
Com um escritório portátil, o nomadismo literário lhe rendeu sua obra-prima, e seu primeiro best-seller permitiu que ele se dedicasse apenas à literatura.
A palavra escritório vem do latim: quer dizer lugar de escrita. Em espanhol, significa escrivaninha. Que, pensando bem, é um lugar de escrever.
Quando eu quietei o facho por causa pandemia, transformei um quarto vazio da casa de BH em um escritório. Busquei referências no Pinterest, pintei uma parede de azul e enchi umas quatro prateleiras de livros. Paguei caro em uma cadeira confortável. Os gatos destruíram o estofado em poucas semanas, mas ela continua sendo um alívio para as minhas costas. Ganhei um mapa-mundi de madeira da minha mãe no mesmo natal que quase passei sozinha, trancada em outro quarto por ter contraído Covid. Até hoje o mapa está pregado na parede do escritório, completando a decoração.
Mas a estabilidade durou pouco. Assim que julguei razoável entrar em um avião outra vez, coloquei tudo de importante em uma mochilinha vermelha e mudei a mala, a cuia e o meu lugar de escrita para a Bahia.
De Itacaré, primeiro trabalhei em uma mesa minúscula em um estúdio minúsculo que mal tinha espaço entre o lugar onde eu dormia e o lugar que eu usava para escrever. A cadeira era daquelas formadas por pequenas ripas de madeira, com espaço de uns 10 cm entre elas, e o encosto em 120° que parece que foi feito para ninguém se encostar. Terminava o dia de trabalho com a bunda marcada igual uma zebra e com a coluna encurvada tal qual um camarão.
Depois, fui pra uma casa maior. Tinha um sofá-cama enorme e uma mesa pequenininha, mais o balcão da cozinha, que dava para o gasto. Trabalhava de todos os espaços possíveis, ou de onde a curva do sol da Bahia me obrigasse a ficar naquela hora específica do dia. Uma coisa que a gente entende logo que começa a levar o trabalho para a estrada é que a maior parte dos apartamentos para temporada não tem uma mesa e cadeira decente. Nem para tomar um café da manhã sossegado, quanto mais para passar horas concentrado.
Hoje sou mais exigente. Ou a lombar 30+ me obriga a ser. Quando vou escolher um apartamento, a primeira coisa que eu olho é se o quarto é separado da cozinha e se tem uma mesa legal. Pode até ser a de jantar.
Mas já trabalhei de muito lugar alternativo, para dizer o mínimo: deitada em dormitório para 16 pessoas de um hostel em Santa Marta; me embebedando com espumante em salas VIPs de aeroporto; de uma birosca num parque de Lisboa; comendo comida francesa em um bouchon em Lyon; sentada na cama com o computador no colo em um hotel barato na Índia; sentada no chão, com o computador no colo em um aeroporto pequeno e lotado depois que um voo atrasou.
Com a internet ocupando absolutamente todos lugares, já trabalhei a 30 mil pés de altura, de dentro de um avião. E, correndo o risco de me transformar em um clichê de banco de imagens, até de uma barraca de praia, com o pé na areia e o mar azul da Bahia na frente eu já trabalhei.
Dependendo das circunstâncias e do meu orçamento, meu lugar de dormir vira também meu lugar de escrever, por mais que eu tente evitar. Perrengue, mas ainda tem valido a pena. Já se a grana e o tempo permitem, tento uma vez por semana trabalhar de cafés, porque faz falta caminhar ouvindo música até o trabalho e poder enrolar enquanto toma uma coisinha. Por um tempo, cheguei a pagar um co-working e, em outro momento da vida, fui eu mesma o meu próprio co-working, trabalhando junto de amigos.
Com tanto movimento, aprendi que esse espaço de trabalho é mais processo e menos parede.
As rotinas, a disciplina, uma agenda organizada, um bom planejamento semanal, calendário colorido, muitas listas e um fone com cancelamento ativo de ruído são os rituais que me transportam para o meu lugar de escrita, para o escritório que pode ser na praia, mas também na rua, na fazenda ou numa casinha de sapê.
Só na chuva que não. Até agora.
Disclaimer: Esse texto foi um desafio proposto e recompensado pela Safety Wing, seguro de viagens para nômades digitais do qual sou embaixadora a afiliada.
A ideia era mostrar em fotografias um pouquinho do meu escritório portátil para vocês.
Viajar preparado…
Nesses 12 anos de estrada, eu já:
Tive intoxicação alimentar no Nepal (achei que era cólera)
Fui mordida por um cachorro na Costa Rica
Tive uma (ou três) reações alérgicas por picada de inseto
Por isso, a última coisa que eu quero é estar em um país estrangeiro sem cobertura médica. Já pensou a dor de cabeça?
Eu não saio do Brasil sem ativar minha cobertura do Safety Wing, um seguro médico de viagem criado por nômades para nômades.
O Nomads Insurance tem cobertura para 185 países e pagamentos mensais que cabem no orçamento, ele oferecem a possiblidade de adquirir uma apólice mesmo se sua viagem já tiver começado, liberdade para pausar em qualquer momento e retomar a cobertura com flexibilidade.
Tem Turismo de Base Comunitária no Youtube
Publiquei o vlog com a vivência com os nômades da tribo Qashqai lá no Youtube! Tive a oportunidade de passar um dia com os membros de um dos clãs dessa tribo que ainda preservam o estilo de vida, conhecendo uma cultura que está em declínio: em menos de 20 anos, o número de nômades no Irã passou de 6 milhões para cerca de 1 milhão.
Esse foi de longe o ponto alto viagem e eu gostei bastante do resultado do vídeo também. Espero que gostem! E se gostarem, não deixem de compartilhar o vídeo e se inscrever no canal!
Sigo na luta para monetizar esse projeto e qualquer view e like é muito bem vindo!
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